sábado, 10 de outubro de 2009

Caracoles Zapatistas


O NASCIMENTO DOS CARACOLES
Durante nove anos produziu-se um lento e ziguezagueante experimento de
autogoverno, de maturação do que foi criado desde 1994. O caminho que leva
dos Municípios Autônomos aos Caracoles e às Juntas de Bom Governo pode
ser visto como a construção de espaços de diálogo e discussão com o objetivo
de lutar coletivamente contra o sistema de dominação. Desde 1994 o EZLN
estimulou o diálogo dentro das comunidades zapatistas e entre ela, através dos Municípios Autônomos.


9 “Encarregados de governar um território rebelde, isto é, sem apoio institucional algum e sofrendo
perseguição e hostilidade, os Conselhos Autônomos dirigiram suas baterias para dois aspectos fundamentais:
a saúde e a educação. Na saúde, não se limitaram a construir clínicas e farmácias (sempre
apoiados pelas ‘sociedades civis’, não se pode esquecer), também formaram agentes de saúde e mantêm
campanhas permanentes de higiene comunitária e de prevenção de doenças. Na educação, em terras
onde não havia nem escolas, muito menos professores, os Conselhos Autônomos (com o apoio das
‘sociedades civis’, não me cansarei de repetir) construíram escolas, capacitaram promotores de educação
e, em alguns casos, até criaram seus próprios conteúdos educativos e pedagógicos. Manuais de
alfabetização e livros de texto são confeccionados pelos ‘comitês de educação’ e promotores, acompanhados
por ‘sociedades civis’ que sabem destes assuntos. Em algumas regiões (não em todas, é certo) já
se conseguiu que as meninas, ancestralmente marginalizadas do acesso ao conhecimento, freqüentem
as escolas. Embora se tenha conseguido que as mulheres já não sejam vendidas e escolham livremente
seu parceiro, existe ainda nas terras zapatistas o que as feministas chamam ‘discriminação de gênero’. A
chamada ‘lei revolucionária das mulheres’ ainda está bem distante de ser cumprida” (Subcomandante
Insurgente Marcos, 2003: 5ª parte).



Neste contexto, em julho de 2003 o Comando do EZLN anuncia o nascimento
dos Caracoles e das Juntas de Bom Governo, expressões de “uma fase
superior de organização” autônoma. Os Caracoles são as sedes das Juntas de
Bom Governo, novas instâncias de coordenação regional e lugares de encontro
das comunidades zapatistas e da sociedade civil nacional e internacional.
Da mesma forma que os municípios rebeldes, as Juntas de Bom Governo são
integradas por “um ou dois dos delegados de cada Conselho Autônomo”, de
modo que se preserva o vínculo direto com as comunidades.
De acordo com o diagnóstico apresentado pela direção do EZLN, as novas
instâncias buscam superar os problemas que surgiram no processo de construção
da autonomia.
Em primeiro lugar, o avanço da autonomia precisa de coordenação regional.
Enquanto os Municípios Autônomos agrupam comunidades e microrregiões,
as cinco Juntas de Bom Governo (ver Quadro 3) agrupam regiões mais
extensas e fortalecem os alcances da autonomia: quer se trate do melhoramento
das condições de vida, das tarefas produtivas, da luta política ou dos intercâmbios,
a coordenação regional ajudará a alcançar os objetivos propostos.